Penso que algumas bandas são tão boas que acabam adquirindo uma importância social, com forte influência na saúde pública, em função de suas atividades. Do estúdio aos palcos, a tensão dos fãs cresce na medida em que o intervalo entre uma obra e outra aumenta com o passar do tempo tornando-se necessária, portanto, sua constante atividade. Entre exemplos óbvios temos os shows dos britânicos do Iron Maiden, Metallica, ou em caso mais trágico, Pantera, cuja separação foi motivo suficiente para um débil mental matar seu guitarrista, Dimebag Darrel. Antes de ofuscar o brilho da banda “homenageada” nesta resenha com essa verborréia trágica, já adianto que assim como as bandas acima, o Symphony X (SX) também brincou com a saúde de seu público cativo. Como disse o próprio vocalista da banda, Russell Allen, em seu show no Brasil – memorável junho de 2007! - “Yeah, I know... not cool guys”. Sim, estou levando para o lado pessoal como fã incondicional da banda...
Pois é, cinco anos se passaram desde o último CD, o fenomenal The Odyssey (TO), de 2002, que confirmava uma tendência evolucionista do SX, inovando aqui e ali em sua sonoridade, sempre passando a limpo e reinventando seu estilo único, que se tornou ícone dentro do chamado “prog metal”. Com olhar atento podemos facilmente notar a escalada da banda desde seu primeiro trabalho. O nível é mantido elevado desde seus primeiros passos, e a evolução é palpável. Com Paradise Lost (PL) não é diferente.
Homônimo ao épico escrito pelo inglês John Milton lançado em 1667, PL, em linhas gerais, segue a tendência pesada do álbum de 2002. Há, contudo, ainda mais peso em relação aos álbuns anteriores, em cujo apoio nota-se facilmente uma nova timbragem dos intrumentos. De qualquer forma, confesso que achei assustador o que ouvi nos últimos dias – uma dica: quem viu as fotos de Michael Romeo no estúdio em 2006 e notou sua perda de peso, o que em si já é uma surpresa, agora já pode teorizar sobre o rumo de toda aquela massa...
Os riffs de Michael Romeo não são menos que matadores, altamente influenciados pelo thrash metal. Os solos mostram a ótima forma do guitarrista, e mais uma vez justificam seu lugar no alto escalão do instrumento. O som de batera deve ser o melhor de todos os álbuns: clara, pesada, com destaques para o som de caixa, bem mais orgânica em relação ao captado no TO, e o impressionante som dos chinas - para os amantes da bateria, notem os chinas na faixa de introdução. Os teclados, além dos sons tradicionais, vêm com orquestrações mais presentes. Estas preenchem as músicas com maestria, conferindo às faixas, junto com os belos corais, uma incontestável atmosfera épica e etérea. Liderando essa porrada toda, temos um Russel Allen muito mais agressivo que o de costume, abusando dos drives e deixando de lado sua face lírica em grande parte do álbum. Em complexa discussão com meus camaradas, chegamos ao termo “ogro vociferante” para nos referirmos ao tio Russell. Imagino que os agraciados que o viram em ação ao vivo concordem com o título.
PL começa em grande estilo com a belíssima Ocullus Ex Inferni, que em vários aspectos me lembrou as partes orquestradas da TO marcadas por tempos quebrados, acentuados pela bateria. Destaque para a orquestra e corais, belos e envolventes, que apenas aumentam a expectativa pelo que virá.
Set the World On Fire (The Lie of Lies) vem em seguida com sua intro crescente em peso, culminante no assustador harmônico de Romeu, seguido de doses cavalares de peso da linha de batera magistral do pequeno gigante Jason Rullo. A música segue pesada até o cativante refrão, passando por solos virtuosos e belos de Romeo e Michael Pinella. Ótima música, mantendo o nível no rol de primeiras músicas do SX ao lado de Inferno e Of Sins and Shadows.
Domination se apresenta com uma intro no melhor estilo “soco no pâncreas”. Nesta aqui Michael Lepond se revela numa linha de baixo que lembra a de Sea Of Lies, seguida por porrada e mais porrada de guitarra e bateria, seguindo à risca a linha thrash de que já falamos. Prato cheio para rodinhas punks nos shows. Cadenciada e pesada do início ao fim, com direito a passagens hipnóticas e refrão facilmente memorizável. Ótima música.
Em Serpent´s Kiss a batera abre incisiva com uma frase no estilo In the Dragon´s Den, seguida por uma guitarra cortante. Nesta faixa, finalmente temos tempo para respirar. Não, a música não deixa de ser pesada, mas nela são alternados breves momentos de relativa calma a outros de extremo nervosismo. Destaque para a passagem orquestra/coral, que serve de base para a segunda parte do solo. Eu diria que trata-se de uma música venenosa se não corresse o risco de ser linchado pelo trocadilho infame.
A faixa título do álbum Paradise Lost foi considerada uma das mais belas compostas pelo SX. Belas linhas de piano e violão em conjunto (estou certo? O que ouvi foi mesmo um violão?). Aqui Russel mata a saudade dos tempos líricos de sua voz. Bela, melódica e acessível.
Eve Of Seduction é uma faixa particularmente interessante pela sua introdução. Suas linhas de guitarra podem causar certa estranheza naqueles que sempre consideravam o estilo do SX imutável. Me pergunto se a banda dos três Michaels não apresenta com ela uma dica de possíveis caminhos a serem trilhados nos próximos CDs. Pouco menos pesada que as demais, flui com mais facilidade. Boa composição.
Voltando ao peso imensurável e cadenciado temos a The Walls of Babylon, segunda faixa mais longa do disco. Guitarra dilacerante, passagens velozes com pedal duplo, atmosfera oriental. Independentemente do conceito desta musica, os corais me lembraram muito um grito de guerra no estilo do filme 300. Destaque para as frases criativas de Rullo durante os refrões.
Aqui está uma das musicas que mais me chamou a atenção no CD. O começo segue o estilo de Damnation Game, e parte para uma musica veloz e incrivelmente pesada apesar disso. Seven conta com performance avassaladora de Romeo, Rullo e Allen vociferando triunfal. Destaque para o que associei também á uma canção de guerra entoada por numeroso exército. No meio da música, guitarra e bateria compondo um poderoso groove acompanham o coral. Candidata ao top 10 do SX (lembremos do grande número de clássicos da banda de Jersey, a décima colocação já é ótima, convenhamos...).
The Sacrifice resiste ao rótulo de balada, e mostra-se, como todo o resto do CD, bem pesada, cadenciada , ainda que um pouco mais melódica. Destaque para as passagens de união entre piano e instrumentos de corda (perdoe-me a ignorância, mas não diria que é bem um violão), e no final (aí sim, tenho certeza!) vemos Michael Romeo no violão para finalizar, algo lento e belo, com pequenos deslizes de virtuose ao estilo Yamandú Costa.
Revelation (Divus Pennae Ex Tragoedia), a mais longa do CD, a segunda em que são mais evidentes as linhas diversas dos padrões da banda. Desta vez temos a presença de guitarras em terça, o que me lembrou muito algo do power ou melódico, que usam e abusam desse recurso. Outro traço destacável e fora do padrão é o refrão pitorescamente ritmado (seria uma valsa do demo?). Revelation brinda-nos com uma coletânea de todos os fatores que fizeram do SX a banda que é hoje. O emocionante final da faixa retoma o belo tema de Ocullus Ex Inferni, e, para a surpresa de muitos, remete-nos a um breve momento nostalgia com uma bela passagem de Divine Wings Of Tragedy (sim, agora o termo em latim que nomeia a música faz sentido!), adornada por vozes angelicais ao fundo. Mostra a primazia da banda em músicas longas, que fazem 10 minutos parecerem apenas 3. Bela, pesada, melódica, nostálgica, fecha o CD com chave de ouro.
Os cinco anos de espera valeram a pena. O Symphony X mais uma vez mostrou sua genialidade aliando peso, velocidade, virtuosismo, técnica, musicalidade, melodia entre inumeráveis fatores que, ao ouvirmos numa música pela primeira vez, nos fazem pular de susto, nos emocionar quem sabe, muitas vezes gritar para o nada “que porra é essa?!?!” enquanto socamos o objeto mais próximo (mantenha as crianças e bichinhos de estimação afastados), e manter o entusiasmo nas outras n vezes em que as colocamos para tocar. CD sensacional.
Symphony X: www.symphonyx.com
Resenha originalmente publicada no blog From Here to Eternity em setembro de 2007
Um comentário:
Grande Nuñez!
Parabéns Pelo Blog, está animal!
E, sim, são violões de cordas de aço que, junto ao piano, conduzem a música Paradise Lost(que, diga-se de passagem, é uma das obras primas do SX)!
Abração, velho!
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