segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Rush . Fly by Night . 1975


Depois de quase um semestre sem escrever resenhas, notei que estava desenvolvendo uma tremedeira muito parecida com aquela que tenho se fico muito tempo sem tocar bateria (os leitores que tocam podem falar, muito triste, quase trágico...). Surgida a oportunidade de escrever novamente, nada como curar meu pseudo-Parkinson falando de Rush, uma das maiores bandas surgidas na era em que os dinossauros do rock dominavam a Terra (60-70) e que ainda está na ativa e em plena forma. Pergunto-me o que esses caras tomavam na época pra ter esse pique até hoje, e não falo somente de Rush, temos Iron Maiden, Deep Purple, Kiss, Rolling Stones entre outras instituições jurássicas ainda caminhando entre nós...após divagar um pouco acerca da questão, acho sábio parar por aqui antes que comece a fazer apologia a alguma coisa ilícita... Rush!!!...voltemos, voltemos...

Provavelmente serei motivo de chacota dos fãs mais aficionados e quiçá terei que me acostumar com uma teimosa mira a laser entre meus olhos quando estiver na rua, mas não sei por que não considerar Fly By Night (FbN), ao menos honorariamente, um álbum clássico do Rush. Eis os motivos: primeiramente, é o álbum onde a banda canadense começou seu flerte com o progressivo, deixando para trás o hard rock bluesístico, fundamentado no estilo dos britânicos do Led Zeppelin (vide o primeiro álbum da banda, auto-intitulado), para se tornar um dos ícones do já citado prog; segundo, é o álbum de estréia de ninguém menos que Neil Peart (bateria). Aliás, para quem não conhece o figura aí, primeiramente bem-vindo ao planeta Terra... ok, deixemos intolerâncias de lado, vou reformular: bem-vindos ao planeta bateria... Sim, Peart é simplesmente um dos bateristas que mais influenciaram as vindouras gerações de aspirantes à prática e à boa execução deste instrumento, talvez somente atrás do mestre/guru/o cara Buddy Rich. Além de suas performances desconcertantes atrás de sua bateria de 360º (cara...que inveja), Neil também se mostrou um exímio letrista, fazendo contribuições um tanto relevantes às músicas do power-trio de Toronto. Que sejam bastantes tais motivos para darem certo destaque ao segundo álbum dos canadenses. Vamos às músicas!

Cinco socos na gengiva começam a “FbN Experience” em grande estilo. Caras, lembro-me que na ocasião em que escutei Anthem (e Rush) pela primeira vez: nada me impediu de soltar um “Nuosssssaaaaahhh!!!”, saltar da poltrona em que estava e atingir de maneira letal o primeiro objeto frágil que encontrei...pobre, pobre animalzinho... Exageros cartunescos (e luto) à parte, imagino que não haveria melhor escolha como primeira música de FbN. Com sua introdução memorável, a performace de Peart, Alex Lifeson (guitarra e violão) e Geddy Lee (baixo, voz e sintetizadores), e linhas vocais de timbre peculiar, Anthem vai direto ao assunto, de certo modo introduzindo a nova proposta musical da banda. Um dos destaques do trabalho.

Uma frase matreira de Peart, seguida por uma levada malandra de Lifeson iniciam Best I Can. Considero esta a música mais rock´n roll do álbum, ainda que as frases de Neil nos lembrem que o estilo da banda é outro. Já Beneath, Between & Behind, soa tão agradável quanto sua colega, apesar do quê a mais de peso, principalmente nas guitarras e vocais, estes um tanto mais agressivos. Diria que são boas composições, mas imagino que não estaria sozinho ao pensar que comparadas a outras que o Rush apresenta neste disco (e nos vindouros), elas não têm muito destaque. Aliás, isto se confirma com a próxima música...

By-Tor and the Snowdog figura talvez como o ponto culminante de FbN. De fato, talvez também figure como o ponto culminante das performances ao vivo, ainda que, com tantos clássicos, pergunto-me se existe algum ponto não culminante nos shows do Rush. Enfim trata-se basicamente do desenvolvimento da proposta prog que Anthem já preconizava; uma composição onde o trio Lifeson, Lee e Peart mostra a que veio, cada um com seu momento de destaque, numa insana mistura de feeling, musicalidade, alegria do rock´n roll, o vigor e peso do hard rock e efeitos, muitos efeitos do prog...

Uma simpática seqüencia de acordes (algo me diz que o timbre da guitarra potencialize este “efeito simpatia”) e comentários pertinentes de Neil (aliás, vindos de quem vêm, tenho dificuldade em não considerá-los desta forma, desculpem...), iniciam Fly by Night, a faixa título, candidata a música mais “pra cima” do álbum e primeiro sucesso comercial do Rush. Imagino que a “temática do recomeço” que a letra tem, aliada ao otimismo passado pelo instrumental construam bem a atmosfera à qual me refiro. Destaque para o solo, seu feeling e energia me fizeram tê-lo como o ponto alto do “efeito simpatia”. Moçada, só ouvindo para se ter uma idéia do que estou tentando passar, mas enfim, quanto otimismo! Otimismo este, aliás, que envolveria o restante das músicas do álbum. Não que as canções anteriores não o tivessem em algum grau, mas as consideraria mais... hum... enérgicas talvez, do que otimistas...

Uma levada violonesca um tanto country inicia Making Memories. O clima otimista, como dito anteriormente, persiste nesta aqui, e muito remete a uma viagem no melhor estilo Easy Rider, ainda que o clima de Canadá que envolve o Rush nas concepções deste que vos escreve descarte qualquer imagem desértica necessária a uma travessia pela Route 66. Quem sabe apenas uma moto, uma bela estrada cercada de pinheiros, o ar cortando a face e... ok, ok, à próxima faixa...

As primeiras notas da música seguinte nos fazem notar que Making Memories agiria como uma intermediária rítmica entre a agitação de Fly by Night e a calmaria de Rivendell. Exato... Rivendell ou Valfenda para aqueles que se deram ao trabalho de checar os nomes em inglês dos paradisíacos resorts élficos da mitologia Tolkieniana. O lirismo e sensibilidade desta faixa (que por sinal suplantam a linha otimista) seriam motivos o bastante para ser considerada a mais bela de FbN. Destaque para a performance “bardo élfico” de Lifeson, linda composição.

Para fechar o álbum, temos a pertinentemente intitulada In the End, começando com tom lírico semelhante a Rivendell, apesar de que, desta vez, Lifeson tenha abandonado seu manto élfico na abordagem do violão. De qualquer maneira, o lirismo acústico é trocado pelo estridente otimismo das guitarras perto do segundo minuto de música, ainda que sem o mesmo peso e vibração que demonstravam na faixa-título do álbum. Dando suporte às guitas, temos um groovie pulsante de Peart, e as peculiares linhas vocais de Lee. Agradável composição fechando a trilogia “life is beautifull” das três faixas “otimistas” (tenhamos Rivendell como exceção) e o álbum em si. Contudo, diria que algo falta à conclusão da obra. Algo que finalize o disco do mesmo modo que foi introduzido (socos na gengiva, lembram-se?), algo que potencialize o suposto efeito “Nuosssssaaaaahhh!!!” (com as devidas precauções), criando, quem sabe, uma expectativa, um desejo, enfim, aquela tresloucada ânsia de ouvi-lo novamente... De qualquer modo, vale ressaltar que isto não tira os créditos de In the End afinal.

Fly by Night, não é o melhor álbum do Rush, tampouco o mais criativo, mas recomendo aos leitores que o escutem, pelos mesmos motivos que o considerei um “álbum clássico honorário” no início desta resenha e como registro da evolução da banda ao longo do tempo, o que levaria à criação de verdadeiros clássicos como 2112. Lembremos, músicas como Anthem, e By-Tor and the Snowdog definitivamente não estão lá para enfeitar...

Resenha originalmente publicada no blog From Here to Eternity em julho de 2008.

Nenhum comentário: