terça-feira, 4 de agosto de 2009

Ancesttral . The Famous Unknown . 2007


Meu primeiro contato com essa banda foi em meados de 2007 quando, ao abrir o jornal Comércio do Jahu, topei com um tema metálico logo na primeira página. Algo como “Guitarrista jauense lança CD de rock pesado”. O nome: Leonardo Brito, amigo de muitos da que considero a velha guarda do Heavy em Jaú. “Wowowowow........wow...” logo pensei enquanto fazia gestos aparentemente incompreensíveis às pessoas presentes na sala em que estava: “Heavy Metal na primeira página?!....hum....leia-mos, leia-mos...” concluí, com um discreto sorriso e menos discreto rubor na face, já ciente que a abstenção de tais gestos grotescos deixaria meus colegas de recinto mais à vontade.

Tratava do álbum de estréia da banda paulistana de heavy/thrash (como o próprio site oficial a rotula) Ancesttral, The Famous Unknown, caso desconsideremos o EP Helleluiah (2005) em suas duas versões, tradicional e web single, e o promo single Lost In Myself (2006). A banda é composta pelo já citado Brito nas guitarras, Alexandre Grunheidt (guitarra e vocal), Renato Canonico (baixo) e Billy Houster (bateria). Não vou dizer que ignoraria a notícia sobre o lançamento de CD de mais uma banda nova caso a tivesse lido na internet, mas confesso que fiquei mais interessado em conhecer o Ancesttral graças ao desperto nacionalismo jauense - sim, o mesmo que une multidões em torno do monumento de adoração ao nosso Guaraná 15. Pois é, admito, sempre agradável saber que um jauense também contribui para o meio musical de além-município, mais ainda quando se trata do bom e velho Heavy. Bairrismos á parte, a primeira impressão que tive ao ouvir TFU foi a esperada de qualquer álbum de veia thrash que se preze: o bom e velho soco no pâncreas.

Mas não só de espancamento de glândulas vive o sentimento de quem ouve um bom heavy/thrash...nesse ponto pretendo entrar, talvez, em um campo ainda inexplorado do significado da palavra “puto” ( adiantadas desculpas aos possíveis pioneiros no uso do significado em questão, por favor, não me processem!). Com esse uso espero humilde e singelamente que consiga transmitir, em parte ao menos, a minha mensagem acerca do que TFU pode causar. Aqui vai minha tentativa de explanação: imagine se toda a ação violenta causada por sentimentos ditos brutais, como ódio, a “putice” por assim dizer, pudesse ser convertida em coisas boas? Eis a metáfora: imagine a energia destrutiva de uma bomba atômica convertida em eletricidade, alimentos, cerveja, etc., enfim, usada para o bem da humanidade... Basicamente sustento a teoria de que os compositores de musicas pesadas e agressivas estão imbuídos dessa “putice” tratada acima, tendo como resultado uma (por que não?) benéfica bestialidade sonora. Dúvidas? Alguém?...bom...eu tentei...Vamos às músicas então!

Com mensagem maquiavélica entoada por voz feminina, digna das “vozes internas” amplamente culpadas por crimes cometidos por serial killers, We Kill é introduzida por relativa calmaria, com acorde de guitarra e bateria percussiva, quebrada por porradas de um instrumental nervoso, desembocando num meio termo rítmico que norteia o restante da música. Peso, muito peso. Destaque para o empolgante refrão, que não poderia deixar de ser temática para toda sorte de rodas punk por aí. Nesse ponto do CD (sim, o começo), as características do que me permiti denominar “música de puto” começam a aflorar: a musica te envolve, sua expressão torna-se extremamente fechada, perguntas como “chupou limão?” tornam-se pertinentes ao atual estado facial do ouvinte, e a técnica de headbang tende a ser aplicada, sugerindo a aprovação do que se ouve....Dentro do universo do CD, consideraria o nível de “putice” de We Kill como ótimo...o que a justifica como música de abertura.

Helleluiah começa também com vozes, entoando perceptivelmente uma oração. Em seguida, vem uma levada de guitarra sem distorção, acompanhada por bateria percussiva, levando-nos finalmente ao peso cadenciado que caracteriza a música. A cadência torna-se quase hipnótica no envolvente refrão. Certamente não discordaria se Helleluiah fosse considerada a melhor música do CD. “Música de puto?”, perguntará você. “Sim, com certeza, assim como todas no álbum”, assim o responderia, mas aqui vai um adendo: limitar-me-ei a denominar putas somente as musicas mais nervosas do CD a fim de dar-lhes seu merecido destaque, e tentar não deixar o termo tão enjoativo no decorrer dessa resenha.

The Famous Unknown, a faixa título, tem andamento médio e o peso característico do álbum. Apesar de ser bem tocada, com participação vocálica de Paul X (Monster), dói-me dizer que ela não tem muito a acrescentar a TFU além de seu interessante e antitético nome. Digo isso dada a pouca variabilidade temática do instrumental, começa do mesmo jeito que termina. Acredite, o Ancesttral tem destruição e conteúdo muito melhor a apresentar mais adiante...

E cá estamos, com mais mensagens perturbadoras iniciando músicas. Começo a temer criticar negativamente esses caras....meu Deus...E tome muito peso de guitas respaldado por levadas percussivas iniciando esta aqui. Demolition Man tem destaque nas linhas vocais, empolgantes desde o inicio, o que notabiliza a música no CD. Destaque também para Heros Trench (Korzus, que também mixou o álbum) nos solos, e Vítor Rodrigues (Torture Squad) nos backing vocals. Confundo-me com o “puto level” dessa aqui, acabando por classificá-la como razoável. Entenda-me: a empolgação transmitida por Demolition Man nos remeteria mais a amigos pulando ebriamente alegres, do que a uma benéfica bestialidade irada. Prefiro não arriscar, deixá-la-ei ao seu julgamento, caro leitor....

Contrariamente à música anterior, Lost In Myself não deixa dúvidas: eu a coloco como definitivamente a música mais puta do CD, alcançando o nível de excelência “Maaaanúúúúú´?!?!?” (agradecimentos ao Mundo Canibal pela perfeita expressão). Essa bestialidade sonora aqui começa de modo típico em relação ao CD... sim... vozes, dessa vez ao menos mostrando-nos uma noticia sobre tensões militares... Para não me esquecer de destacar nada, abstenho-me ênfases. Lost In Myself começa já com um riff nervoso, determinado, como introdução, a um ritmo cadenciado pela bateria. Tensão crescente até estourarmos em levada rápida e veloz, prontamente acompanhada por um discurso raivoso do vocal, e metralhadoras entoadas pelas semicolcheias das levadas de dois bumbos. Destaque para Denis Grunheidt (Damage Inc.), nos solos. Acho que senti uma ponta de faca no meu pâncreas... espero que seja só impressão...

Endless Trip é com certeza a música mais cadenciada e pesada do álbum. Apesar da pouca agitação física sugerida pelo seu ritmo lento, não me permitiria classificá-la como inferior à boa e velha “putice”. Isso se deve ao seu riff pesado, e principalmente, às linhas de vocais extremamente nervosas, por vezes angustiadas, e se viajarmos um tanto, passíveis de interpretação. Destaque para a participação nos vocais de Roger Lombardi (Sunset Midnight). Quanto ódio, que perturbação, quanta angústia...boa composição...

Put Me Trought, mantém também a linha cadenciada. Da pesada introdução até meados da música, segue sem grandes novidades, apesar de riffs de guitarra interessantes. Destaque para o solo no melhor estilo “levanta a bunda da cadeira seu merda”. Pois é senhores, confesso que estava prestes a fazer comentários aborrecidos desta aqui, até ouvir o ritmo veloz e nervoso do solo, este sim otimamente puto. Após a tormenta do solo, a música segue na relativa calmaria até o seu final.

O título da música seguinte muito me remete a esse maravilhoso período de janeiro, férias de verão em nosso querido “patropí”. Hell Is My Home segue com o melhor da dobradinha cadência/peso, comandada por um poderoso groove de batera e baixo, com pertinentes doses cavalares de peso de guitarra conforme a evolução da música. Otimamente puta, ótima música.

Visual Mask tem sua introdução sugerindo outra música cadenciada no repertório. Pura pegadinha do malandro (Há!). Eis que o instrumental torna-se altamente agressivo e vigoroso, e assim continua até o final. Destaque para as demoníacas vociferações de Vítor Rodrigues. Aliás, recomendo-os a checarem o trabalho dele com o Torture Squad. Minha experiência com o rapaz aí ao vivo me permite classificá-lo como “altamente from hell”. Infelizmente tive que sair do show quando meus ouvidos começaram a sangrar...Vale a pena conferir! Quanto à composição, boníssima, putíssima....

Feel My Hate certamente fecha o CD com estilo. Esta começa impondo respeito com agressivo riff, seguindo pesada até o fim. Apesar de sua presença, não diria que “cadência” se encaixe perfeitamente a essa música, mas liga não... temos peso e ira nos vocais pra compensar. “Yeah man, feel his hate!”. Iradamente puta. Destaque para os backing vocals urrados de Marcelo Pompeu (Korzus, também produtor de TFU).

The Famous Unknown, mostra claramente a síntese do thrash oitentista, e heavy noventista, que resultaram no que é o Ancesttral. Ainda que não possa ser considerada original, a banda nos brinda com algo que, se nos distrairmos demais, poderá nos ser negado: música bem feita e bem executada. Parabéns aos músicos, ótimo CD.

Ancesttral: www.ancesttral.com

Resenha originalmente publicada no blog From Here to Eternity em janeiro de 2008

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